terça-feira, 18 de junho de 2013

O Aborrecimento

O Aborrecimento

Era um dia como outro qualquer. Estava eu em minha rotina de comando, – Não põe isso ai, vai ao banco resolver isso agora, é melhor devolver isso ao fornecedor, como assim não conseguiu vender? ( ...)
De repente, o momento em que eu estava fiscalizando as saídas de mercadorias, me avisam que alguém gostaria de falar com a gerente. Perguntei por que não haviam dirigido a pessoa até aqui. - Pelo que conhecemos da senhora, achamos que não aprovaria isso. Diante da reposta já comecei a imaginar a que estavam se referindo, me dirigi a entrada da loja e me deparo com uma figura no mínimo incoerente ao nosso estabelecimento.
-Pois não!
-Olá, meu nome é Maria e estou deixando meu currículo nos estabelecimentos, pois estou a procura de emprego (...)
- Fiquei sem palavras. Logo me perguntei se aquela moça não se colocava em seu lugar, se não selecionava os lugares onde procurar emprego. Sem pensar direito estendi a mão e recebi os papéis. Não vi alternativa e folheei o conjunto de folhas. Depois de um tempo ela, que continuava ao sol no entrar da loja, me pergunta:
- E então moça o que achou, pode ficar com meu currículo?
Achei aquela pergunta desnecessária, pois pela minha cara ela já deveria ter percebido seu erro e dado o fora, mas não, continuava ali. De fato seu currículo era interessante. No entanto, jamais a aceitaria em minha loja que é frequentada pela mais alta sociedade local. Então me saí da seguinte forma:
- Bem, um currículo como o seu seria, de fato, interessante para nós, mas você deve entender, perceber e reconhecer que não atende ao nosso “perfil profissional”, então eu peço que se retire e continue sua busca, boa sorte.
- Ah, bem, eu, é... quero dizer..., tudo bem, muito obrigada senhora.
Fiquei observando enquanto ela se retirava e uma raiva foi tomando conta de mim, como ninguém a instrui dos lugares em que pode  ir? O que pensa que é para vir até aqui? Imagina se eu iria contratar uma pessoa de cor, uma afro-descendente para meus serviços. Todos os meus clientes iriam reparar, todos iriam me pedir satisfação, talvez alguns até deixassem de frequentar a loja, sem falar que ela chamaria muita atenção.  
De repente todos esses meus pensamentos se resumiram a um só, então perguntei imediatamente:
- Quem teve a brilhante ideia de me interromper com algo tão insignificante? Por que, me conhecendo como me conhecem, não mandaram logo aquela moça se dirigir a outro local? Teriam me poupado tempo e aborrecimento. Exijo saber imediatamente  quem pediu a ela que aguardasse.
- Fui em patroa
- Isabel?
- Sim, pensei que talvez (...)
- Pensou? Se pensasse não teria feito o que fez. Será que não consegue perceber a diferença? Olha pra você, olha para a aparência daquela moça, olha para a aparência de todos que trabalham aqui. Percebe?
- Sim mas (...)
- Mas por isso perderá o emprego, não quero que esse tipo de coisa se repita.
Nesse momento eu disse, em alto e bom tom para todos entendessem:
- Ouviram? NÃO QUERO QUE SE REPITA. Sabem o que busco em um representante, não cometam o mesmo erro da Isabel ou terão o mesmo destino, RUA.
Depois de tudo isso não me sentia com animo para trabalhar e resolvi tirar o resto do dia de folga para curtir meus filhos em casa. No meio da tarde minha empregada nos preparou um ótimo lanche, quando ela se aproximou eu disse, - Parece que sua gente quer dominar o mundo.
- Como assim patroa?
-Acredita que hoje uma moça negra foi procurar emprego na loja?
- É, tem gente que não sabe o seu lugar, não se esquente com isso. Vou pra cozinha cuidar no serviço.
- Sim, obrigada, Antonia.
Bom, e depois desse dia exaustivo cheguei a conclusão de que cada um tem seu lugar no mundo, pois eu amo minha empregada, ela cuida muito bem da minha cozinha, dos meus filhos, do meu jardim, das minhas roupas (...).


 Autora: Divaneide Silva

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