terça-feira, 26 de março de 2013

LITERATURA: A ARTE DA PALAVRA

            O que é arte? Arte é, antes de mais nada, uma palavra, uma palavra que reconhece quer o conceito de arte , quer o fato de sua existência. Sem a palavra, poderíamos até duvidar da própria existência da arte, e é um fato que o termo não existe na língua de todas as sociedades.

            Arte é, portanto, também um objeto, mas não é um objeto qualquer. A arte é um objeto estético, feito para ser visto e apreciado pelo seu valor intrínseco. E o que se entende por estético? A estética costuma ser definida como “o que diz respeito ao que é belo”.
A LITERATURA

A arte da literatura existe há alguns milênios. Entretanto, sua natureza e suas funções continuam sendo objeto de discussão, principalmente para os artistas.
O homem, como ser histórico, tem anseios, necessidades e valores que se modificam constantemente. Suas criações – entre elas a literatura – refletem seu modo de ver a vida e de estar no mundo. Assim, ao longo da História, a literatura foi concebida de diferentes maneiras.
Numa definição mais abrangente pode-se diz-se que literatura é a arte da palavra como matéria-prima de suas criações.
A obra literária é essencialmente diferente dos textos produzidos em nossa vida prática, como cartas, relatórios ou este texto didático que você está lendo agora. Ela possui valores intrínsecos ou valores estéticos, que são construídos com as palavras. Ela (re)inventa a realidade com as palavras.
A HISTÓRIA DA LITERATURA
Como todas as outras artes, a literatura reflete as relações do homem com o mundo e com seus semelhantes. Na medida em que essas relações se transformam historicamente, a literatura também se transforma, pois é sensível às peculiaridades de cada época, aos modos de encarar a vida, de problematizar a existência, de questionar a realidade, de organizar a convivência social etc. 
As obras de um determinado período histórico, ainda que se diferenciem uma das outras, possuem certas características comuns que as identificam. Essas características dizem respeito tanto à mentalidade predominante na época quanto às formas, às convenções e às técnicas expressivas utilizadas pelos autores.
 

LITERATURA E REALIDADE
A obra literária, utilizando a palavra, recria a realidade, a vida. Essa definição focaliza dois aspectos opostos, mas complementares, da arte literária: a criação e a representação.
Por um lado ela é invenção. O autor ria uma realidade imaginária, fictícia. De outro, o universo da ficção mantém relações vivas com o mundo real. Nesse sentido, a literatura é imitação da realidade.
A obra literária pode ser um instrumento de fuga da realidade. Qualquer leitura que se faz como distração possui essa mesma função evasiva. Ao lermos, por exemplo, uma história de aventuras, embarcamos em um navio pirata, lutamos ao lado de um super-herói, amamos belas mulheres... sonhamos.
Certas épocas literárias são marcadas pela importância que os autores atribuem à perfeição formal de suas obras. Os temas passam para um segundo plano, só interessando a beleza estética. Quando isso ocorre, a literatura pode alienar-se da realidade. É o que chamamos de arte pela arte, característica frequentemente encontrada, por exemplo, no Parnasianismo, movimento literário do final do século XIX.
O oposto da arte pela arte é a literatura engajada, de autores comprometidos com a defesa de ideias políticas, filosóficas ou religiosas. Quando limitam o trabalho criativo à retorica de convencimento, a obra reduz-se a um panfleto, mero instrumento de propaganda.
SÍNTESE
·         A arte é feita em toda parte; portanto, ela é uma atividade essencial para o ser humano.

·         A arte é uma atividade estética (que diz respeito ao belo) e possui valores intrínsecos (valores referentes ao próprio objeto artístico).

·         Literatura é arte. Portanto, é uma atividade estética com valores intrínsecos. A obra literária diferencia-se das obras de função puramente pragmática.

·         A literatura tem como matéria-prima a palavra, isto é, a linguagem verbal.

·         Na obra literária, como em toda arte, forma e conteúdo são categorias inseparáveis: uma produz constantemente a outra.

·         A literatura reflete as relações do homem com o mundo. Com essas relações mudam, historicamente a literatura também muda.

·         A literatura é invenção, mas também uma relação viva e tensa com o mundo real.

·         A literatura é praticada, tanto pelos autores quanto pelos leitores, com múltiplas funções. Nos extremos, pode ser pura evasão (a fuga da realidade) ou instrumento de propaganda (arte engajada). Uma forma de evasão é a literatura voltada apenas para seus valores intrínsecos (arte pela arte). (texto Emília Amaral)
 
PAUSA                                                                                              
      Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de  minhas próprias coisas, surpreende-me a indagar com se parecem óculos sobre a mesa.
      Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?
      Com algum ciclista tombado?
      Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?
      E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.
      E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois – Dom Quixote ou Sancho? – vive uma vida mais intensa e portanto mais verdadeira...
      E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da criação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.
      Esse enigma, eu passo a ti pobre leitor.
      E agora?
      Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti: “Io sonno um poeta o sonno um imbecile?
      Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia...
      A verdade é que minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.
      E daí?
      ---- Mas o melhor – pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança -, o melhor é repor depressa os óculos no nariz.
(A vaca e o hipogrifo. @ by Elena Quintana. S)

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